quarta-feira, 10 de novembro de 2010

De como fazer um trailer para reconquistar Lucas.


 
Sempre achei que fazer trailers é uma arte. Escolher trechos do longa que indiquem a história de um jeito didático e, ainda, intrigante, selecionar tomadas que, por vezes, nem foram incluídas no filme, escolher a trilha sonora perfeita. Atiçar a curiosidade de quem vê. Contar, não contando. Pensava, toda a vez que via um bom trailer, que difícil, deve ser isso. Pensava o mesmo quando via um trailer chato de doer, desses que tem o poder de transformar dois minutos no cinema em dez, e de fazer repetir, mentalmente, começa, filme, começa. Eu não sabia nada de trailer mas sabia que o cara deveria sugerir a história, e não me contar ela inteira.

A admiração pelos trailermakers (peço desculpas aos cineastas, continuístas, diretores de fotografia, figurinistas, clap loaders, e outros profissionais do cinema, pela falta de conhecimento na área) aumentava à medida que os respectivos filmes ficavam piores. Assistia ao trailer em casa, no youtube, ou na prévia de um outro filme qualquer no cinema, e ficava extasiada, esse filme é digno de Grammy, Concha, Globos de Ouro, tenho que assistir! Acompanhava a estréia, me programava para ver, arranjava uma companhia interessada, igualmente ludibriada pelo trailer e igualmente avessa à leitura prévia das críticas, e, pumba! Na hora H, o filme me virava do avesso e, o que parecia um candidato ao Leão de Ouro, saia do cinema sensação do Framboesa. 

Virei fã dos trailers, mais que dos próprios filmes. Curtos e informativos, me proporcionaram diversão pontual e gratuita por bons milhares de minutos. Aqueles que me intrigavam muito, muitíssimo, aí sim me levavam ao cinema. Os demais, nasciam e morriam trailers. Até que um dia, a repetição me fez perceber que a arte, como quase todo o resto, era mesmo uma arte. A da repetição. Não vou dizer que todos eles, mas um bocado deles, certamente, eram feitos a partir de uma mesma fórmula mágica. Não importava o gênero, o diretor ou a distribuidora. 

É meio que assim (e, mais uma vez, profissionais do cinema, não se sintam ofendidos por toda a baboseira cinematografica que virá a seguir): primeiro de tudo, os beauty shots. Cidades, florestas, montanhas, as mais variadas imagens aéreas e paisagens em geral ambientam o espectador. Geografizam a gente ao mesmo tempo que criam um e daí, e daí, vai logo que eu quero ver. Um embromation até que esperto, eu diria. Em segundo lugar, o voice over. Aquele senhor locutor de voz grave. O segundo adjetivo da voz do cara depende do gênero do filme. Aveludada, se for um drama, ou um chick-flick. Misteriosa, se for um suspense ou um terror. Mudinho, se a idéia é ressaltar as cenas de ação. Nesse caso, a trilha sonora toma conta. Tem também os graves, pontuando cada cena dramática ou importante. No cinema, aquilo reverbera e emociona. Faz que fica bonito. 

As imagens são, vira e mexe, intercaladas com blacks de 2 a 5 segundos, e terminam com um cross fade ou corte seco. Às vezes, no final, uma montagem rápida segue a evolução da música e aí, silêncio. Talvez, quem sabe, uma frase de efeito que se relacione com o nome do filme e que ajude o espectador a se lembrar dele. O que é  meio que importante, considerando que as traduções brasileiras dos nomes de filmes gringos são zero criativas. Já devo ter assistido a 50 filmes chamados Evidências de um Crime e variações, por exemplo. Nesse contexto, os letreiros, grandes e impactantes, são super importantes: “em dois mil e onze nos cinemas” ou “BREVE NOS CINEMAS”. Prefiro o breve, confesso. Deixa a gente aflito para saber qual é, pô, chega quando?

Por último, mas não menos importante, a música. O que dá para perceber de cara é que, em qualquer trailer, a trilha sonora é fundamental. Até aquele canto gregoriano ou aquela música clássica dos trailers épicos são simpáticos. É um Oooohhhh para lá, Oooohhhh para cá, e a tensão está criada. É só colocar o letreiro.

De final, queria poder incluir nesse post um exemplo. Mas seria o trailer de Crepúsculo, que, além de comprovar a receita, traz o pacote lobo-vampiro versão infanto-juvenil, Robert Pattinson e Taylor Lautner. E aí, ia ter neguinho querendo processar o blog, que eu sei. Então, de final, só digo que foi assim que eu aprendi tudo o que sei sobre trailers

Fico imaginando se tem outro jeito de se fazer cinema. Espero, do fundo do coração, que sim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário