segunda-feira, 25 de abril de 2011

Peru real: o bolo é surpresa.



Uma verdade verdadeira é que tentei ao máximo evitar o assunto político da semana. Acontece que a opção mais amena em pauta - muito mais amena, diga-se de passagem - era o casamento real. Preferi então ficar mesmo com o dilema peruano, que ao menos dava para mencionar o Llosa entre um parágrafo e outro. A outra verdade é que ninguém quer saber se o bolo da Kate vai ser de frutas ou de chocolate.

E se é para jogar a real já assim, de cara, digo que a disputa no Peru é uma tristeza só. Dois populistas, um de direita e outro de esquerda. E não há muito o que se possa fazer. Humala, o favorito, é um militar meio confuso. Faz que muda de discurso como muda de samba-canção. Modelo Chávez, modelo Lula, e, do nada, resolve adotar a linha marketeira do paz e amor. De duas, uma: ou ele assistiu Aconteceu em Woodstock e se deixou contagiar pela vibe dos anos 70, ou é um malandro de marca maior. Ou os dois.

À la PT, Humala baseou o blá-blá-blá moderado na solução para a brecha social. A grande transformação é a grande redistribuição da riqueza no país e essa riqueza deve ser repartida entre todos os peruanos. E milhares de indígenas aplaudiram de pé,  enquanto acenavam com a bandeira multicolorida do império inca. A verdade verdadeira desse parágrafo é que a única riqueza que esses indígenas poderiam ter foi toda saqueada em 1532 pelos espanhóis de Pizarro, e agora, José, vai precisar de bem mais que um militar atrapalhado para tirar 10 milhões de peruanos da linha de pobreza.

Afora as crises de personalidade política e do discurso lulista manjado, o favorito defende o intervencionismo, a nacionalização de vários setores da economia e desconfia da iniciativa privada e do capital estrangeiro. Ou seja, de tudo o que permitiu o país crescer na última década. Olha, até a copeira aqui do escritório tem a impressão de que essa aí não é uma boa estratégia. Acabei de perguntar enquanto ela me servia o café.

De resto, tem a Keiko Fujimori, filha de pai ditador, corrupto, condenado a 25 anos de cana por abusos dos direitos humanos. Dá para encarar? Só depois do casamento real, muito bolo de frutas e o triplo de champanhe. Esses dias ela jurou por Deus que, se ganhar as eleições, não concederá indulto ao pai. Ah, ok. Agora sim, dá para confiar.

Ainda, a moça tem uma lista gigante de promessas e é conhecida e temida pela prodigalidade. Há quem diga que a gastança em potencial é capaz de fazer o Peru retroceder no controle da dívida pública e da inflação. E para onde será que vai o dinheiro todo? Já sei. Melhoria do sistema prisional. Que se não dá para soltar, tem que ao menos dar uma forcinha.

Semana passada Llosa mandou uma verdade-quase-que-verdadeira numa coletiva e disse que o Peru está entre duas opções: a AIDS e o câncer terminal. O quase da verdade vem da parcialidade de quem perdeu a eleição para Alberto Fujimori em 1990. A credibilidade vem do fato de que um é Nobel da literatura e, o outro, um bárbaro. Dizem as más línguas que o Llosa é tão sério e tão crível que até o Fujimori está lendo O Paraíso na Outra Esquina na prisão (e mal pode esperar para ler Travessuras da Menina Má)

De final, li por aí que, quando se trata de eleições no Peru, nada está escrito em pedra. Os eleitores costumam mudar muito e às vezes decidem seu voto quando estão diante da urna. Dá para entender. Se eu fosse peruana, fechava o olho e mandava bala. Que seja lá o que for, tem sempre a próxima página de Mário Vargas Llosa. E o casamento real, é claro.