quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Esfiha Diplomática.




Diz que a Liga Árabe pretende discutir hoje a crise política na Líbia. Há consenso para discutir o tema, ainda que devam ser cumpridos primeiro trâmites de rigor para podermos efetuar uma reunião extraordinária de diplomatas. A tática burocrata nunca deixa de ser boa, parece. Que enquanto as esfihas diplomáticas estiverem no forno, o povo líbio toma Trípoli e passa a rasteira no Al-Khaddafi. E pronto, tudo resolvido. Disclaimer: de político, esse post não tem nada.

É que estão dizendo por aí que a moda pegou, e que depois da Tunísia e do Egito, não há ditadura de décadas que agüente. Há quem culpe inteiramente a globalização de rede. É tudo graças à Internet. É por causa do tal do Facebook. Teve até um egípcio que batizou a filha recém-nascida de Facebook, no mesmo dia em que aprendeu o que significava Web. O próprio Júnior acusou elementos de oposição no exterior pela tentativa de revolução através do Facebook, no “estilo” do Egito. Cá para nós, Júnior, oposição no exterior? Só se exterior for representativo para o backyard da central do governo do papai e a oposição for formada pelos 6.000.000 de líbios fulos com ele.

Ao que me parece, a matemática é simples: descontentamento e identificação. E, nada mais justo, o êxito anterior vira exemplo. Está certo que várias das manifestações no Egito foram impulsionadas pela Internet. Assim como o foram todas as festas do pijama da Paris Hilton. As redes sociais são um meio fácil, descomplicado de comunicação. Utilizá-las para o relevante ou para o fútil, vai do Povo Árabe e da Paris Hilton, que com Internet ou sem soletra Fa-ce-bok com um ó a menos e não faz a mínima idéia de onde é que fica a Líbia. E nada disso realmente importa ao Mark Zuckerberg.

Agora, dizer que a revolução árabe foi causada pelo Facebook, é forçar a barra demais. A comunicação, hoje, é rápida, simples, em massa. Batata: virou instrumento político dos árabes, ávidos por mudanças.

Pois que eu li que os 57 países membros da Liga Árabe seguem com profunda preocupação com relação aos acontecimentos na Líbia e em outras nações árabes. Acontece que, ao que tudo indica, pela primeira vez, o momento é mais de des-preocupação. Com sangue ou sem, o povo líbio (metonimicamente pelos árabes oprimidos por um governo ditatorial), decidiu lutar, e mais, tem armas outras para isso. Preocupante mesmo foi o ano de 1998, em que o golpe resultou em tiro, cirurgia, e restauração do governo.  Não dessa vez, Tio Muammar

Talvez, quem sabe, seja hora da Liga desencanar das esfihas diplomáticas e, a exemplo do Exército Egípcio, fazer, às pressas, uma página no Facebook. Página Diplomática, é claro. Seja lá o que essa palavra realmente signifique.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A des-descoberta: Darwinismo social, my ass.


 

Acho que a palavra que põe os devidos pingos nos is é sorte. E não adianta. Tem quem nasça com ela, tem quem nasça sem. Pode perceber. Tem nego (sem qualquer alusão ao charge acima) que, de criança, ganha aquele brinquedo sorteado na escola, é o preferido da avó, o mais bonito da turma, corre e não cai, come e não engorda, faz piada e todo mundo ri, faz cagada e ninguém descobre. Então, não vou falar aqui dos medianos, que passam a vida despercebidos, ou dos underdogs, que sofrem bullying a vida inteira, colecionam gatos obesos e morrem aos 46, mais obesos ainda. Não. Esse não é um post dramático e não tem qualquer finalidade social. É um post-constatação, e só.

Pode até parecer simplista, mas não é, não. Na verdade, é quase que uma meia-teoria (porque uma metade é quase que constatação histórico-empírica e a outra metade cada um quase que desenvolve como bem entender, ou não).

Pois bem. No começo, bem no comecinho, eu achava, - como meus pais ingenuamente me ensinaram, - que o mundo era governado pela meritocracia branca e objetiva do o que se planta, se colhe. Simples e justo. Então, quando via o bonitão, bom na escola, nos esportes, com as garotas, e, ainda, de Super Nintendo debaixo do braço (aquele que, de década em década, sorteavam na escola), virgulava os pensamentos e justificava tudo aquilo com uma explicação óbvia. É porque ele é um bom menino. Ele estuda. Ele é educado e gentil. Ele é cuidadoso. E já que nada vinha do nada, as justificativas eram sempre um blend de genética e esforço. A bom gato, bom rato, e em pé de morango, laranja não dá. Justíssimo.

Pois que fui crescendo, e à medida que comparava os Pedrinhos, percebia que o buraco era mais fundo, a Terra, redonda, e os meus pais, quadrados. E que não era mérito, que nada. Era muito mais complicado e menos justo do que parecia: o sucesso do Pedrinho dependia de variáveis muitas além da carga cromossômica e do esforço do moleque. E a Teoria do Mérito, ainda que reinasse em alguns raros lugares, ela, e ela também, era arbitrária. Como todo o mais.

Triste, eu sei. Mas além do genótipo, do fenótipo, do esforço e da dedicação, notei que o Pedrinho contava com a malandra da sorte. Ele contava com as circunstâncias. Com o momento. Com a afeição da Tia Telma, da terceira série, que achou que ele se parecia com o sobrinho paraplégico filho da irmã do meio e resolveu dar aquele 0,5 que faltava em matemática. Com a sensatez corporativa do chefe, que entendeu ser melhor promover ele do que o João, que já é mais velho e vai acabar associado A e exigindo aumento astronômico. E essa combinação de variáveis, constante e continuamente, tem vez que fazia do Pedrinho uma criança de ouro, tem vez, um gordinho azarado. E, depois, na vida adulta, as variáveis transformavam o Pedrinho no Pedro dos 29 gatos ou no Doutor Pedro, empresário e investidor, casado com aquela atriz da Globo.

E aí que, quando disse coisa parecida entre amigos dia desses, me perguntaram, e a meritocracia, nessa história? E eu respondo, meus caros, que ela, de verdade, não existe não. É palavra bonita de incentivo, e só. Que ainda não inventaram medidor objetivo de habilidade, inteligência e esforço, e quem mede é quem mede. É a Tia Telma. É o chefe. Sou eu. É o Pedro. Os mais arbitrários dos arbitrários.

Eis então que a grande descoberta foi, na verdade, uma des-descobertaPela sua teoria, o sucesso é um suco – minha avó, dando pitaco. É, só se for daqueles de bolado, que nem coando fino dá para saber o que é que tem dentro.