segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O porco e o toucinho: críticas ao bacon.



No meu último post, fiz uma crítica velada (ou nem tanto) ao Restart. Aliás, nos últimos tempos, quem é que não critica o Restart quando pode? Vi esses dias, na internet, um cara dizendo que Restart é igual a chocalho: colorido, faz barulho, e toda criança gosta. E olha que nem contexto tinha. O Adnet e a galerinha-piada da MTV, como não podia deixar de ser, também gastaram boas horas do ano tirando sarro da banda. Ri junto todas as vezes, admito. Mas verdades e inverdades à parte, o que importa é que esse post é um post-inverso. Para variar, e porque faz eu me sentir uma pessoa melhor, esse post veio, pasmem, defender, (de certo modo), os caras do Restart. Melhor ainda: veio defender o que quer que seja que eles representam. Ou tentam representar.

Essa vontade de fazer o bem ao próximo surgiu quando vi o Dinho-Ouro-Who?-Preto no programa do Lobão, e junto com ele, a tecer críticas gerais aos gêneros musicais sem profundidade, representados por essas banda como o Restart, e pelas duplas sertanejas. Sabe o que que é? As pessoas querem eliminar a profundidade das coisas, como se fosse uma coisa fashion. Se você não tem profundidade, você é um babaca. Agora, você vai achar que vai ser um babaca incólume?  É, Lobão. Cena de Cinema é que tem profundidade. Desde o carro até a escadaria do metro. Acontece que profundidade, ou você tem ou você não tem, em todos os períodos da história, ele mandou. Entendi. Até no Paleolítico, Lobão? Tenho certeza que, na Idade da Pedra Lascada, todo mundo ouvia Lobão. De lá para frente é que foi o problema.

Não estou tirando toda a razão do Lobão, não. Que tanto não dá para sair incólume da falta de profundidade que ele virou apresentador da MTV. Nem do Dinho-Outro-Who?-Preto. Imagine. O que você faz quando / Ninguém te vê fazendo / Ou o que você queria fazer / Se ninguém pudesse te ver. Bem cabeça. A verdade é que cada vez que ouço uma música do Capital Inicial, me emociono. Penso até em deixar a página 382 de Madame Bovary para ir lá decorar as letras, profundas e intensas que são. Mas só quando ninguém está me vendo.

Bom, baboseiras anti-profundas de lado, o que quero dizer, e o que o Lobão deveria saber a essa altura do campeonato, é que, profundidade, qualquer um pode ter e não ter, ao mesmo tempo. Não estou dizendo que os caras do Restart têm, em qualquer momento do dia, seja lendo jornal, seja batendo um papo cabeça com a mãe ex-alcoolatra. Eu não sei se os caras do Restart lêem Dostoiévski ou jogam X-Box o dia inteiro. Ou os dois. Nem o Lobão sabe. Então, Lobinho, porque o maniqueísmo?

Não posso, nem quero analisar o som do Restart. (Confesso que não sou fã do Pedro Lucas, mas antes ele que a Wanessa Camargo). Também não vou tratar das roupas dos caras. (Confesso também que não curto polaina verde-limão, mas acho o estilo todo-em-couro-grudadinho do Kiss pior. Eu tinha 16 anos, não sabia o que estava fazendo. Não, essa desculpa não rola para o Paul Stanley).

O que sei e posso dizer, com certeza, é que, ao contrário da Teoria Maniqueista do Lobão, o profundo convive com o superficial, na grande maioria das vezes. Que dá para ler Crime e Castigo e jogar Mario Kart, dá não? Uma coisa não elimina automaticamente a outra, e, definitivamente, ouvir Restart não faz da Cecília pior escritora. (Pessoal do Restart, favor procurar maniqueísmo no Houaiss e, em seguida, reler o post).

De resumo, e cá pra nós, ser só profundo é muito chato. E ser só superficial, também. As pessoas mais interessantes (e normais) desse mundo são um, e o outro, vez em quando, alternadamente. Agora, chato, chato mesmo, é falar besteira em rede nacional aos 50 e poucos. Acompanhado do Toucinho. Mal aí, Lobão, mas ficou chato pra caramba.

domingo, 28 de novembro de 2010

E viva o Rio de Janeiro.

Viva o Rio no Natal.
Viva o Rio no Carnaval.


Viva o Rio em 2016.


Viva o Rio, todos os dias.

Viva o Rio, mas só quando chove.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Trocadalho do Baú: o Sílvio é um Santo.






Juro que eu queria escrever sobre outra coisa. Uma banda tosca (lê-se Restart), uma palhaçada televisiva qualquer (lê-se qualquer programa da TV aberta). Mas com Sílvio Santos à bancarrota e coreano se matando, me senti mal em escrever besteira sobre besteiras e resolvi por bem adiar o post ameno. Não que esse aqui vá ter menos besteira. Mas é besteira semi-jornalística e pega bem.

Todo dia leio alguma besteira sobre o Sílvio e o banco das américas dele. Li hoje que ele admitiu, em rede nacional, que está pendurado. Li também que o buraco de R$2,5 bilhões no Banco Panamericano foi descoberto pelo BC ao cruzar informações de carteiras de crédito vendidas com as carteiras de crédito dos compradores, que mesmo vendidas, não saíram do balanço do banco, o que engordava erroneamente os resultados. Olha, na minha opinião, o Sílvio não tem culpa nenhuma de nada, coitado. E camelô sabe lá dirigir banco? Não, né. Nem contratar contador. Deve ter contratado um ex-camelô que fez curso de contabilidade à distância e achou que não tinha problema nenhum maquiar balanço. Que é para ficar mais bonito, Seu Sílvio. E o Sílvio concordou.

Agora, será que a presidente da Caixa Econômica também era camelô? A moça que trabalha lá em casa acha que sim. E hoje, lendo uma matéria do O Dia, sabe que eu também tô achando? A matéria dizia que, quando a Caixa comprou as ações do Panamericano em 2009, o banco valia R$2,1 bilhões na Bolsa, e que, na semana passada, o valor de mercado era de R$1,2 bilhão. E a diferença, Maria Fernanda? A gente ganha em telesena?

Não consideramos que perdemos, não compramos como especulador, daqueles que compram na baixa para vender na alta, disse a presidente. Ainda bem, né?  Disse, ainda, que os estudos feitos pela Caixa apontavam que o PanAmericano era a instituição que mais atendia às demandas internas. Demanda de que? De telesena?

Agora, Maria Fernanda, não tem mais telesena, nem felicidade, nem nada. Que o SBT e o Baú viraram garantia. E aí?  Faz o quê?  Vamos sortear o Sílvio como ganhador da próxima mega-sena acumulada? A repartição-camelô responsável pelos jogos de loteria da Caixa fez um estudo e aprovou. E o Lula, com certeza, vai adorar a idéia. Que o Sílvio, ah, o Sílvio merece!

Charges de um crime-novela.


Título: O Bruno também é corintiano.



 Título: O médico mais ético do mundo.



 Título: Procura-se babá. Paga-se bem.



 Título: Agora, já era.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A troca do Neném sem pai nem mãe.



No país da gambiarra, as pessoas ainda fazem fubá por coisa pouca. Não entendo muito bem o porquê, mas elas fazem. Diz que ontem, a juíza do Ceará deferiu a liminar para que todos os alunos prejudicados pela troca dos cabeçalhos na folha de respostas do ENEM tenham direito de refazer a prova. Pera lá. Refazer?

Fiquei pensando cá comigo: qual foi a troca tão prejudicial, dona juíza? Fui checar e veja você, que, como eu, já não está nem aí para o ENEM e sabe que, no país da maracutaia braba, só se engana quem quer: as questões de 1 a 45 eram de ciências da natureza e as questões 46 a 90, de ciências humanas, mas estavam identificadas de forma invertida na folha de respostas. Pergunta: e-da-í? O MEC já ofereceu aos alunos que marcaram as respostas ao contrário a possibilidade de solicitar a correção invertida, não foi? Pronto, . Finito. O nego começou com uma possibilidade e terminou com duas. E o nego cabeçudo, que não tem idéia de qual a diferença entre ciências humanas e da natureza, porque todo humano vem da natureza, não vem, tia?, ainda vai ter a chance de acertar alguma coisa na sorte, por favor, Seu MEC, nem inverte não. E asno que a Roma vá, asno volta de lá.

Mas não. O legal é fazer escândalo e chorar em rede nacional,  remelando bem na frente da câmera que é para dar aquela dramatizada, ou se vestir de palhaço e protestar na frente da Universidade Federal do seu Estado. Isso sim. E eu que era do tempo em que legal, legal mesmo, era prestar vestibular para passar na faculdade. E saber que ciências humanas não tem nada de natural. 

(E eu que era do tempo em que quem acertava, acertava também invertido).

A verdade verdadeira é que não tem muito o que se faça com esse Neném. Agora, é criar como se fosse seu, primo. Ou pedir para destrocar, que veio, mas é a cara do padeiro.

[para Fernando Haddad, Ministro da Educação].

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

De como fazer um trailer para reconquistar Lucas.


 
Sempre achei que fazer trailers é uma arte. Escolher trechos do longa que indiquem a história de um jeito didático e, ainda, intrigante, selecionar tomadas que, por vezes, nem foram incluídas no filme, escolher a trilha sonora perfeita. Atiçar a curiosidade de quem vê. Contar, não contando. Pensava, toda a vez que via um bom trailer, que difícil, deve ser isso. Pensava o mesmo quando via um trailer chato de doer, desses que tem o poder de transformar dois minutos no cinema em dez, e de fazer repetir, mentalmente, começa, filme, começa. Eu não sabia nada de trailer mas sabia que o cara deveria sugerir a história, e não me contar ela inteira.

A admiração pelos trailermakers (peço desculpas aos cineastas, continuístas, diretores de fotografia, figurinistas, clap loaders, e outros profissionais do cinema, pela falta de conhecimento na área) aumentava à medida que os respectivos filmes ficavam piores. Assistia ao trailer em casa, no youtube, ou na prévia de um outro filme qualquer no cinema, e ficava extasiada, esse filme é digno de Grammy, Concha, Globos de Ouro, tenho que assistir! Acompanhava a estréia, me programava para ver, arranjava uma companhia interessada, igualmente ludibriada pelo trailer e igualmente avessa à leitura prévia das críticas, e, pumba! Na hora H, o filme me virava do avesso e, o que parecia um candidato ao Leão de Ouro, saia do cinema sensação do Framboesa. 

Virei fã dos trailers, mais que dos próprios filmes. Curtos e informativos, me proporcionaram diversão pontual e gratuita por bons milhares de minutos. Aqueles que me intrigavam muito, muitíssimo, aí sim me levavam ao cinema. Os demais, nasciam e morriam trailers. Até que um dia, a repetição me fez perceber que a arte, como quase todo o resto, era mesmo uma arte. A da repetição. Não vou dizer que todos eles, mas um bocado deles, certamente, eram feitos a partir de uma mesma fórmula mágica. Não importava o gênero, o diretor ou a distribuidora. 

É meio que assim (e, mais uma vez, profissionais do cinema, não se sintam ofendidos por toda a baboseira cinematografica que virá a seguir): primeiro de tudo, os beauty shots. Cidades, florestas, montanhas, as mais variadas imagens aéreas e paisagens em geral ambientam o espectador. Geografizam a gente ao mesmo tempo que criam um e daí, e daí, vai logo que eu quero ver. Um embromation até que esperto, eu diria. Em segundo lugar, o voice over. Aquele senhor locutor de voz grave. O segundo adjetivo da voz do cara depende do gênero do filme. Aveludada, se for um drama, ou um chick-flick. Misteriosa, se for um suspense ou um terror. Mudinho, se a idéia é ressaltar as cenas de ação. Nesse caso, a trilha sonora toma conta. Tem também os graves, pontuando cada cena dramática ou importante. No cinema, aquilo reverbera e emociona. Faz que fica bonito. 

As imagens são, vira e mexe, intercaladas com blacks de 2 a 5 segundos, e terminam com um cross fade ou corte seco. Às vezes, no final, uma montagem rápida segue a evolução da música e aí, silêncio. Talvez, quem sabe, uma frase de efeito que se relacione com o nome do filme e que ajude o espectador a se lembrar dele. O que é  meio que importante, considerando que as traduções brasileiras dos nomes de filmes gringos são zero criativas. Já devo ter assistido a 50 filmes chamados Evidências de um Crime e variações, por exemplo. Nesse contexto, os letreiros, grandes e impactantes, são super importantes: “em dois mil e onze nos cinemas” ou “BREVE NOS CINEMAS”. Prefiro o breve, confesso. Deixa a gente aflito para saber qual é, pô, chega quando?

Por último, mas não menos importante, a música. O que dá para perceber de cara é que, em qualquer trailer, a trilha sonora é fundamental. Até aquele canto gregoriano ou aquela música clássica dos trailers épicos são simpáticos. É um Oooohhhh para lá, Oooohhhh para cá, e a tensão está criada. É só colocar o letreiro.

De final, queria poder incluir nesse post um exemplo. Mas seria o trailer de Crepúsculo, que, além de comprovar a receita, traz o pacote lobo-vampiro versão infanto-juvenil, Robert Pattinson e Taylor Lautner. E aí, ia ter neguinho querendo processar o blog, que eu sei. Então, de final, só digo que foi assim que eu aprendi tudo o que sei sobre trailers

Fico imaginando se tem outro jeito de se fazer cinema. Espero, do fundo do coração, que sim.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Teoria dos Patins.



Descobri, esses dias, o quanto sou ruim de contas. Na verdade, que eu era ruim, eu já sabia. Descobri, e aí sim, o muito que vem na frente. Uma taboadinha justa, um juros simples, vá lá. Nos bons dias, um composto, uma dízima e, quem sabe, uma ou outra divisão mais arriscada. Nos demais, é sempre conta de padeiro. Corto tudo o que vem depois da primeira vírgula, e avante!, que o importante é chegar em um número final qualquer que me sirva de referência -- ainda que indigno de respeito pela falta de precisão.

A tal da conta de padaria nunca chegou a me incomodar, não. Mas, na semana passada, o cenário mudou. Digamos que a farinha brigou com o padeiro, e, pela primeira vez na vida, precisei da terceira casa ao meu favor. E aí, bom, aí o bicho pegou.

Apavorei. Bolei saídas mirabolantes. De me inscrever para o próximo vestibular de contabilidade que surgisse, de comprar uma HP 12C Platinum no Mercado Livre, de começar a estudar todas aquelas lições de matemática financeira one-o-one da Camila depois do trabalho. Por dias dormi pensando nas próximas contas que apareceriam para me enfrentar. Porque elas viriam, sem sombra de dúvida. [Na primeira noite, sonhei - pela falta de um verbo para quando se tem um pesadelo - com o Delúbio Soares, planilhando, como um pianista em um concerto, pagamentos-falcatruas. E eu do lado, aprendiz de tesoureiro].

Resolvi um monte de coisas, durante os dias dessas noites. Que nunca mais faria contas como de costume, que usaria sempre as casas centesimais que aparecessem pela frente, que dominaria o Excel como se fosse uma arte marcial chinesa dessas de filme, que se aprende devagar e a duras penas, e que nunca, nunca mais, ousaria fazer tabelas no Word. Que a era dos números haveria de dominar a minha vidinha medíocre de livros de gramática e literatura brasileira.

E foi aí que me veio aquela onda de verdade crua, que afoga e depois desafoga. A famosa onda de resignação. Achei que podia ser preguiça, Anna, você está tentando escapar, ecoei para mim, repreensiva. Fui pesquisar. Psicoanaliticamente, a resignação é freqüentemente aconselhada quando uma situação é tanto ruim quanto imutável. E não é que, preguiça de lado, era quase que o meu caso com a matemática intermediária?

E por mais ridículo que pareça, uma das cinco acepções de resignação do Michaelis (mais precisamente a quarta, 4. sujeição paciente às amarguras da vida), me fez aceitar minha limitação numérico-decimal. Não é drama, não. E também não é que eu não tenha que aprender mais nada, matematicamente falando. Acontece que, naquele dia, e por causa da bendita casa centesimal que tinha me ferrado há uma semana, resolvi tentar aprender a aceitar que têm coisas que eu não sei fazer bem, que os outros sabem melhor do que eu. Não vou listar, que é sacanagem. Tem coisa pra chuchu. E também não vou dizer que o certo, antes mesmo de tentar aprender algo novo, diferente, é desistir. O difícil é encontrar o limite. O limite que mais hora menos hora te cutuca e diz, baixinho, tentou o suficiente, colega, não deu, abraço. Lembrei até de um conhecido, coitado, que tentou, por três anos a fio, aprender a tocar bateria. Começou como canhoto que é, e, depois de um ano de aulas periódicas, o professor mandou um vamos tentar como destro, Tito? Pois é difícil, isso. De saber reconhecer as próprias limitações, na hora certa. Se o Tito tivesse aprendido a lição, tinha, com ano e meio, mudado para o violão. Ou para o judô. Acho que depende do quão ruim na batera o Tito era.

O importante é que lembrei da história do Tito, das baquetas descoordenadamente irresignadas, e decidi ser diferente. Especificamente, entender que os números são, de fato, uma limitação minha, como a dificuldade com o nado borboleta e o repudio às bicicletas e aos patins. E genericamente, aprender a abrir mão, aceitar que não rolou, mas que, paciência, tentei.

Abri mão da HP como abri mão, há dez anos atrás, daqueles patins cor-de-rosa da Barbie Fotógrafa. Na época, troquei os patins por livros do Sabino. Agora, vou ter de achar um substituto à altura da matemática financeira. Estou pensando em outros livros, maiores, mais complexos, em outra língua, talvez. Que de números, me bastam os das páginas.