sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Sumô Passenger.



Descobri, no meu último trajeto São Paulo-Campo Grande, que viajar de avião é meio que uma loteria. Mas uma loteria sacana: ou você ganha, ou se ferra. E se ferra bonito.

Pelas minhas estatísticas sem qualquer critério, presumo que, em cada vôo e considerando 100% dos passageiros, 70% deles ganhem nessa loteria aérea. E, bom, os outros 30%, a gente já sabe o que acontece com eles. Si-fú. Explico.

Pode notar. Tem vôo que é simples, rápido e cômodo. Mal você pisa no aeroporto, embarca, acomoda a sua malinha, senta do lado de um sujeito agradabilíssimo, e pronto. Quando vê, chegou na cidade-destino, sem fio de cabelo fora do lugar. Importante dizer que o conceito de agradabilíssimo em aviões é diferente daquele dos dicionários: para que um sujeito o seja, basta ocupar pouco espaço, não ter nenhum odor estranho, não fazer qualquer tentativa de engajar uma conversa e, claro, ao aceitar o serviço de bordo, comer silenciosa e educadamente. Ah, e jamais aceitar as balinhas da TAM, jamais. No máximo, guardar para depois. Que ninguém no mundo deveria ser obrigado a ouvir o barulho alheio da mastigação árdua daquela butter-toffee. Ninguém.

Bom, ocorre que o parágrafo acima acontece com os 70% dos passageiros vencedores. Vamos ao que acontece com os que si-fú. O parágrafo desses caras não é assim, tão curto. Nem o vôo.

É que o sujeito chega e a onda de azar aéreo começa lá no começo, no check-in. Fila gigante, daquelas que parece que anda, mas não. Meia hora depois, o sujeito é o primeiro da fila. Acontece que todos os guichês estão ocupados com as pessoas mais retardadas da cidade, que ou não sabem em que vôo estão, ou esqueceram o RG, ou decidiram lutar com unhas e dentes por um lugar no corredor, porque janela é impossível, moça, que eu tenho um problema urinário e preciso usar o toalete a toda hora. E tudo isso faltando três minutos para o embarque. Aí o coitado do sujeito, feito o check-in, vai para o portão de embarque, senta, e abre um livro. Ou um notebook, depende do sujeito. E atenção, clientes TAM do vôo 6132 para o Rio de Janeiro, por motivos de reposicionamento da aeronave (...). Lá vai o sujeito atrás do novo portão de embarque. Chegando lá, não tem lugar para sentar. Os portões vizinhos estão lotados daquela gente mal-educada, que parece que, quando viaja, viaja com a família toda de cerca de 20 pessoas, e com malas gigantes ainda mais mal-educadas, de vontade própria. Meu senhor, mas o que é que o senhor tem aí dentro, um gorila? Uma vez um amigo meu jurou que uma senhora estava levando uma das filhas na mala. Eu chutei que era um periquito, que criança não fazia aquele barulho, mas nunca soubemos com certeza.

Daí que o sujeito finalmente embarca, depois de uma fila de mais de 20 minutos, que todo mundo hoje em dia é preferencial. Tem até homem que é capaz de dizer que está grávido. E tem comissário, daqueles delicadinhos, que é capaz que acredita. O importante é que o sujeito chega no avião e, educado que é, rapidamente encontra a poltrona, acomoda a bagagem de mão e aperta o cinto, achando, de verdade, que o martírio chegou ao fim. Não, colega. Esses dois parágrafos só contaram o Si. Falta a parte do .

O sujeito não-premiado senta, e é claro, do lado de um outro sujeito que, diferente do sujeito vizinho do sujeito premiado, não tem nada, nadinha de agradável. Muito pelo contrário. É, geralmente, uma senhora-obesa-mórbida, que não sabe fazer outra coisa que não reclamar da falta de espaço entre poltronas. É, a poltrona é que é pequena, minha senhora. E olha que essa senhora deve ter contribuído para o atraso do embarque, porque, e não tenha dúvida, subiu guinchada. Ou então aquele tiozinho que veio lá do Recife, e, ai, meu padin-padicícero, nunca viajei nesse negócio que voa não, seu moço! Tenha a certeza de que ele também atrasou o embarque, porque entrou no avião abismado com o tamanho daquilo, e ficou alguns minutos para descobrir onde é que estava a tal da poltrona 14B. Além desses, o sujeito não-premiado pode ter outros mais variados tipos de vizinhos-de-vôo. Tem a bancária que não para de falar. Tem a mãe com neném de colo, que, eventualmente, vai gorfar no coitado do sujeito. Tem o chinês com cheiro de cebola. Tem o árabe que repete cinco vezes o lanche que é para cobrir o preço da passagem. Entre outros. [Trouxe duas nacionalidades que é para o post ficar preconceito-free. Queria ter adicionado um judeu, mas não rolou].

A verdade é que o sujeito não-premiado está condenado. Cada minuto do vôo doméstico vai parecer multiplicado por cinco. E os comissários de bordo, alienígenas enviados para acabar com a vida na Terra, ou vigaristas assassinos mancomunados num complô. Contra o sujeito e aos olhos dele, é claro.

E é isso aí. Enquanto isso, os demais 70% dormem, lêem, escrevem, conversam. Ouvem Ipod. Brincam com o Ipad. E quem disse que a vida é justa? Não adianta mudar de companhia aérea, determinar um padrão de poltronas, definir horários específicos. É loteria, colega. Hora ou outra, você vai ser o sujeito do lado da gorda. Não há nada que se possa fazer.

De fim de post, outro apelo: Seu Líbano, faz favor de vetar a butter-toffee e colocar uma daquelas balas de hortelã no lugar, por gentileza. Menos barulho e hálito fresh. Grata.

4 comentários:

  1. Nossa, Anna, você se sente assim sentada ao meu ladinho no vôo? Quando você está babando no meu ombrinho?...rs. Saudades (já)!

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  2. Nunca, Maricota. Quem já teve a sorte de sentar do seu lado num vôo, ah, esse sim, ganhou na loteria! Que gata desse jeito, só para o sujeito muito premiado. Saudades também. Mil beijos.

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  3. AAAAAAAAAAAAAMei....pronto, falei.

    Dito isso, fico nos 30% com mais frequência do que nos 70% e alem de todos os malas sem alça que você descreveu, temos que lembrar:
    - o cara feio...feeeeeio....feeeeeeeeeeio...que alem de se achar bonito, se acha inteligente e interessante e não importa quantas vezes você vira a cara, ele considera que você e tímida, e não que você gostaria que o chão debaixo da sua poltrona se abrisse ao vazio...ou melhor...o chão debaixo da poltrona dele, pra ele voltar pro inferno de onde ele veio.

    - A mulher que comprou o FREE SHOP INTEEEEEEEEIRO....literalmente, dez sacolas na mao. Claro que ela atrasou o vôo, porque ficou decidindo entre o creme com cheiro de côco e o de baunilha (duas essências facilmente ignoráveis). Você se levanta, educada como foi pela mamãe e alem de tomar um empurrão das sacolas ainda fica esperando ela guardar todas e te olhar com cara de reprovação e falar: tem como me ajudar? A vontade é de falar..."não minha amiga, você esta perdida para sempre na sua pequena cabeça, melhor se acomodar sozinha aí".

    - O cara que te assusta...ele tem cara de terrorista, olhos de pervertido e ainda tem cheiro de cigarro velho e apodrecendo.

    Great.

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  4. Olha amiga, consigo sentir o trauma que esses sujeitos te causaram nesses anos de vôo. Pois vamos aterrorizar a vida deles de volta! É só aceitar 34 butter-toffees e comer uma por uma, sem dó nem piedade.

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